quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Distraído

Narciso, distraído, falava sobre as sensações sensoriais de seus últimos sonhos, e sobre como eram absurdas as definições “primeira pessoa”, “terceira pessoa”, e assim por diante, quando se relacionavam a sonhos. Até porque em seus sonhos ele era cartas, muitas vezes, ou morto por elas. A necessidade de escrever um livro que superasse aquele que havia escrito e ainda nem havia lançado era mais importante do que muita coisa em sua vida. Achava seu traço um pouco piegas, mas mesmo assim, traçava-os com afeto, e um pingo de auto-depreciação (Assim como num pôgo).

- Começou um burburinho quando um bêbado adentrou minha sala, já bastante bagunçada. Eu sabia que quem havia provocado algum atrito era eu. Mas como eu gosto de todo esse pacote! Aqueles olhares tão desanimadores, que me fazem achar meu humor incompreendido cada vez mais relevante para eu mesmo! – Dizia narciso para Bringin.

- Minha vontade era lavar minha honra em praça pública, assim como um banho didático, para toda a população daqueles sujos e inconvenientes, todos vestidos de roupas de carne, todos com aquele líquido brilhante sob as roupas. Quando esse bêbado adentrou sua casa, deve ter tido a mesma vontade que eu.

- Passe-me mais disso aí que está tomando.

- Não vê que bebo do líquido que circula sob minhas vestes de carne?

- Perdoe-me. Acreditei que fosse vinho!

- Queres cear de minhas veias? Pois limpo minha honra! – Bringin, com a faca de queijos, esfaqueia-se, sangra e esguicha por toda a sala, mas só começa a morrer ao ouvir Narciso dizendo:

- Não vê que o bêbado era você? Agora entende algo sobre meu humor, e eu sobre lavar a honra!

Narciso se despe da cabeça aos pés, e só assim vê que não há honra, mas sim, orgulho que era puramente humano; fazendo parte também de sua aura destrutiva, orgulho sempre o fez paquerar as facas, a gaveta de facas. Nada era triste, mas sim um desperdício. Ouviu seu próprio motivo de piada dizer algo sobre honra, e assim danificou seu corpo, permanentemente.

Agora tudo era tralha, e não havia livro, não havia testemunhas. Havia tumbas, e crianças brincando. As crianças brincariam de sticks e bolas com tais tralhas,se soubessem que nada é sagrado (não quando vira tralha.)

Essas crianças tinham mães, que diziam nãos era nada bom brincar naqueles lugares. A continuação da existência desse Narciso que morava num bairro de classe média, deu-se numa lenda, sobre um homem que falava demais, que dizia “falar com os animais”, e que matou um amigo, e a si, para, segundo o que dizia no bilhete, limpar suas honras em praça pública.

Era ele louco? Eram os dois loucos? Estamos todos loucos? Ou será que meu humor é incompreendido?

domingo, 12 de setembro de 2010

Carta para Análise

Se fazendo de bom moço, olhou para o batente da casa da ‘dona’, e sentiu-se reconfortado, era um tipo de verão que vinha, mas pingos frios, muito frios caíam em seus ombros. Vivia no esgoto, já há dois meses; o calor no esgoto é mais terrível do que na superfície. Esperava pela queda, mas sabia que estaria junto de sua amada, de sua cadela, e do batente da porta da ‘dona’. Pra que um mundo tão literal? Por que as coisas que estão nas lâmpadas, em cima dos montes que refletem, não viram também massa, não viram também matéria?

Sim, é um mundo literal o daquele que não vê o script, que não vê nada brilhando. Sei que não vou te encontrar aqui, e nesse momento, mas sei que posso mandar isso aqui que estou vendo agora pra análise, para o frio laboratório da superfície. Me digam, senhores, quantos morangos são necessários para calar um homem de sua última anedota? Não sabe essa? Quem é que responderia essa? Nunca foi uma piada!

Vejo no claro oco de seus olhos já mortos, o muro de tijolos da casa daquele parque tão bonito em São Justino. Eu sei que a doença tomou conta de nossas peles por dois anos e meio, e isso foi o que fez a gente associar a dor ao sexo. Descobri isso do nada, assim, num piscar de olhos! No trombar com minha própria sombra. Sou literal, e coloco o que vejo aqui para análise, espero que haja romãs na superfície quando o verão passar. Esse é o paradoxo. Não existiriam romãs pra quando eu sair daqui? O verão aqui é terrível! Já lhe digo, de sombra para sombra:

“Olhe bem o que vem para te abraçar em sonhos, tais comichões não passam de eletricidade! E eletricidade é algo sobre imagens e dentes quebrados. O Porquê? Bem só digo de perto, por baixo, olhando bem para suas lentes, ocas e trincadas, que não vê o futuro daí, mas sim, tem a sensação elétrica, de um dia acomodado nos colos, e nos colos deleita-se, da possibilidade mecânica e pré estabelecida do carinho, que sim, é verdadeiro, mas efêmero em seu estado puro.”

O batente da porta, aquilo tranqüilizou-o de tal maneira, que era possível remar, e remar, por lácteas crostas de monstros celestes. Não tem nada de piegas em ver a chuva quando ela cai, e não através de eletricidade, e simplesmente por isso. Os pingos frios são mesmo o que me refresca neste verão. Coloco meu chapéu, e não vejo mais nada. Mas tiro-o para o sono. Aquele trabalhador que vem de morros, e constantes descobrimentos de serras. Eu via os trabalhadores e as formigas abaixo do sol; foi aí que comecei a enxergar essas nuances de cores-líquido, que mando agora para análise. Atenciosamente, Roman.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Non-sense avec elegance.

Não, nunca foi culpa. Não, não quero falar sobre os problemas da vida, nem criar uma história mais confortável pra que eu durma em paz.

- Há um cara, que com dois dedos faz o que mandam, e olha que ele só tem dois dedos! – Disse Horsel.

- Existe um pouco de groselha no sangue de alguém, gostaria de conhecer essa pessoa. Quem entende o humor de alguém que acha graça numa piada daquelas? Gostaria de conhecer outras pessoas. Se algo fosse bom o bastante para ser resolvido com uma canção, cá estaria o presunto, morto e desnudo, com dois dedos fazendo o que mandam. – Disse Bringin.

- Quem são esses que mandam? Aqueles que olham? – Horsel derretia.

- Não, os que chamam! – Bringin batia um calcanhar no outro, fazendo um som engraçado.

Horsel e Bringin já não aguentavam mais e tiveram um ataque de riso.

Posso continuar? Só não me olhe com essa cara, ok? Falo sério ao dizer que não quero inventar nada... Isso tudo é um relato! Uma antiga história que não para de acontecer. Em minha mente? Sim, em minha mente... também por isso digo que não se trata de problemas da vida. Bem...

- Hup! – Pulava Bringin, cada vez mais alto.

- Huuul! – Gritava Horsel, num groove anazalado.

- Isso é pura música, bro!
Touch the Sky... don’t you see it? That’s my eye! Is it ripped? No, it’s fine… - Bringin cantava espontaneamente, sem se preocupar com o abismo que os esperava.

Mas, sim! O céu estava se rompendo, e o sol que brilhava lá no alto era também parte do coro. O sol gritava “OOOOOOOHHH”.

Nada era harmonia, mas os dois se davam bem, derretendo e pulando, como se um punhal nunca tivesse atravessado o sol. Punhal este que também era um lápis, isso nas bandas de cá; rasgando papel, nas mãos de alguém que não dava a mínima se um abismo o esperava ou não.