segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Recipiente Trovador Inconstante

Tem uma outra maneira de se chegar onde você quer chegar. Nada sujo, apenas diferente. Sabe, quando alguém no quarto dos fundos me amola, dizendo que precisa de mais empregados, de mais portas... de mais quartos! Isso realmente me assusta. Há um tipo de ser que sonda e limpa as paredes dos aquários, com aquelas bocas que parecem gargalos moldáveis; essa espécie é a que varre, e que joga fora tudo o que não está arquivado. Pode ser que esse tipo de ser esteja me usando agora, como um tipo de... recipiente trovador. É tudo o que ele precisa, e é tudo o que eu posso fazer por essa pobre criatura que vive num quadro escrito solidão.

Era meio de ano, e eu era pequeno; um diabinho me ensinava a desenhar, me agarrava pela mão e fazia com que esta corresse pelo papel, desenhando falos de leões de circo, e caras de leões de chácara. Eu sempre cheguei ao destino esperado por algo ,ou alguém (este tipo de trova já não é mais a mesma coisa), e sim, tinha algo faltando, devido aos atalhos e cortes transversais nas ruas que eu passava. Era até mesmo divertido os termos “cortar caminho”, ou “vamos pelo campão” (aliás, era só pra isso que o campão servia, pois sempre achei enfadonha a atividade “jogar bola”). Todos esses atalhos podem até mesmo ter conservado minha condição de vivo, mas com certeza eu teria chegado a longos passos à uma praia mais limpa, com menos diabinhos me ensinando a desenhar na areia, caso eu não tivesse cortado caminho pelo maldito campão. Não desprezo tais diabos, nem pratico bullying contra os lambedores de vidro, mas estou cansado de me conformar com este aquário. Chame de praia, chame de sala de estar... chame do que quiser!

Eu quero mais portas, e mais quartos, e assusto assim o recipiente trovador. Já passou do tempo de colocar todas estas canetas vermelhas no lixo, junto com o roteiro amarrotado de cada tele-jornal, que faz tanta gente acreditar que o mundo é conhecido por tantos, ou por alguém. Não vêem que o mundo jaz sob areia, sob lixo, sob tantos e tantos outros, que parecidos conosco fazem nosso papel pelas ruas e praias externas, como se já não bastasse Hollywood roubando nossas falas por aí, cobrando-nos por vermos, e por sermos. Já passou do tempo.