quarta-feira, 9 de março de 2011

Suporte

“Frequência, era esta a palavra que me amolava; esta palavra e um robozinho que me dizia o que fazer, com dentes luminosos e algo mais. Caso pense que o que sai por esta moldura é tudo o que há dentro da tela, lhe digo que se engana. Há um certo murmúrio entre as pinceladas hoje; nada aqui parece uma cena, ou cenário para o tal. Talvez seja este o motivo para que torremos todo aquele ouro, e digamos que nada que acontece no interior da tela é realmente o que atrai o espectador. Pode ser simplesmente pela moldura. Já pensou nisso?

Este que vos encara, nada mais quer do que se portar de acordo com a pincelada, mesmo que esta seja contrária à moldura. Muitas vezes, o que é invisível salta aos olhos, apenas porque é necessário preencher as molduras. Muitos filmes são vistos devido aos seus veículos de transmissão, devido às malditas molduras. Caso comprássemos uma tela, que ficasse no lugar da janela, que fosse encoberta vez ou outra pelas cortinas, eu lhe diria que estaríamos no caminho certo.

O invisível mencionado não passa de vento que quebra árvores aos pedaços, trazendo para dentro de casa algumas folhas. Não há cultura adquirida! É apenas um pretexto para que varramos de vez em quando os cacos; de cansados que estamos, nada mais queremos limpar. Cansados de quebrar molduras e telas... muitas vezes, telas vítreas.”

Todos, de olhos vivos, observando a tela que falava, aguardavam agora Tom, com seu singelo e breve bordão.

- E é com grande satisfação que levanto-me, e digo tais coisas! Que comecem os monólogos! – Tom, quebrando a taça na tela vítrea, começava também um monólogo.

E todos os dias eram assim, as pessoas interagiam umas com as outras, dando pequenos sorrisos, e olhares multifacetados uns aos outros, enquanto o grande e gordo Tom fazia seu monólogo inicial, para que depois, todos limpassem um caco aqui, ou uma folha ali, falando consigo mesmos, e preparando suas telas, apenas por delicadeza. Nada daquilo era necessário, vê? Não era necessário para a vida em si, mas as telas ficavam cada vez mais expressivas... e para isso valia levar a vida, como se nesta houvesse algo intrínseco à arte. Como se nada mais pertencesse a outro lugar, e tudo estivesse bem ali, em seus monólogos emoldurados, esperando que hora ou outra fossem vistos, ou tapados por cortinas brancas.