sexta-feira, 16 de novembro de 2012

"Sonhos de $ 2,50... Outros que não valem nada."


Cara, ser original estava nos planos, arquitetei bem as arestas, mas toda noite dou uma topada com o dedinho do pé nas quinas. Quero sim me expor, quero me calejar, quero aniquilar esse maldito ego de artista... Mas não quero ser comparado, nem proporcionalizado numa escala de cinza (“olha só, até que ele tá quase chegando no preto!”). Isso é péssimo, e já está me tirando forças. Sabe o pior de tudo isso? Sou o pior julgador que já conheci, e me julgo como se pisasse em merda.

As pessoas não são todas fadas e brilhantes estrelinhas que nos derramam seu pozinho para nos acalentarem em elogios... Isso também seria péssimo! Aniquilar esse maldito ego não devia estar nos planos; ele parece fazer parte do programa alienígena, e se alimenta com a energia que deveria zera-lo a nada. Esse alien foi implantado, e é um estranho para mim. Maldito e estranho. Julgador e broxante. Estou manco e meio cego; hoje está difícil de viver.

Está difícil produzir essa estranha arte, e está difícil de aceitar toda essa caçamba de defeitos nesse feto malformado. Ter um filho assim não é fácil para ninguém, mas sim, desejo isso a todos.

Os antigos não entendem meu estilo, mas alguns aceitam, sem questionar, com a sábia lucidez que emana do um sol oculto em cada olhar de mais de 70. Os outros me pedem pra colocar uma botina, e tocar sanfona. Muitos jovens apenas passam por cima “disso tudo”, pois posso ser um excelente amigo, apesar “disso tudo”. Outros querem me botar pra baixo, com suas bocas abertas de hienas e cabelos sebosos; eles realmente não conhecem o que se passa nos bastidores. Aquele terrível acidente que aconteceu com o ator principal, e o estranhíssimo substituto que mandar no lugar do pobre e roto molambo.

Na realidade, o desejo de ser compreendido deve ter estado sempre tocando num playback, mas minhas composições extravagantes sufocavam o pedido. Eu devia me isolar, viver o verdadeiro sonho, não este que comprei na banca do meu amigo argentino em 1999. Isso me choca também; é horrível ouvir atrocidades deste tipo vindas de um amigo tão chegado (eu). Mesmo que ele (eu) me julgue, e me pise, sei que é como um pai que ficou alcoólatra por causa do pai, pois seu avô espancava os filhos; na realidade ele tem boas intenções, e existe um amor que é de dificílimo esgotamento entre nós. Já vi esse amor quase se esvair algumas vezes, mas aí uma plantinha bem regada me agarrava da beira da altíssima janela, e me dizia “isso não pode!”. Pois é, a sabedoria vem de um lugar muito estranho; às vezes esse lugar usa óculos e é odiado por boa parte da família.

Esses dias conversei comigo mesmo, e me propus ser meu melhor amigo. Foi muito bom, mas existe algo de boicote na minha manga... Uma carta de tarô num jogo de pôquer; e é sempre a do enforcado (essa carta existe?). Talvez resolva adentrar essa carta, escalar a forca e roubar alguns dentes do dependurado; dizem que isso traz muita sorte e fortuna!

“Trabalhar com o lixo, com o intragável, com o que é por muitos repudiado ou inexistente”... Que missãozinha horrível! O aspecto mais bizarro disso é que é aí que reside meu deleite; nessa margem, nessa borda de catupiry falso... Nesse sonho americano comprado por $ 2,50 em 1999 na banca de meu amigo argentino.