Você não precisa pedir perdão pra Deus porque matou um amigo
imaginário. Seus amigos entendem a situação melhor do que você... Sempre. Tudo
o que acontece numa trilogia é entendido como uma afronta à coletividade comum.
Uma trilogia lhe faz pensar no bater miocárdio, e lhe faz não pensar, sentir.
Não conheço caminho a seguir, e não conheço desvio, não
conheço ponto de chegada, e desconheço churrascarias à beira da estrada. Tudo o
que é feito em trilogia é respeitado por cada olho e cada dente...
Conheço algumas situações padrão, e conheço o interior. Conheço
um cara corcunda que anda na rua com cigarros e prostitutas do terminal urbano.
E conheço um garoto bom, um garoto que espera minha instrução e assiste quieto
e tranquilo à todos meus trabalhos. Acredito que ele pense que uma hora dessas
as coisas vão se estabilizar; ele é um sonhador, e respeito isso mais do que à
mim mesmo. Respeito este garoto, porque é ele quem assumirá a firma.
Alguns amigos meus acham que estou me encontrando. Eu penso
que não há algo para encontrar; tudo do que preciso está bem aqui. Fico em paz,
à pesar dos vizinhos... Conheço um ou dois, e tudo o que acontece aqui dentro
não se trata de festa, nem um pouco. Devo procurar o meio-termo? Devo viver
para gastar a energia que me foi dada como embrião? Acho que preciso de uma
namorada.
Acredito na paz como pré-requisito para a vivência em dois,
ou em um. Roqueiros sabem disso, e acreditam na paz. Toda e qualquer destruição
é de muros, e grades, e cercas; e eu sei, não posso generalizar. Falo de
trilogia. Falo de música, falo de um tempo calmo. Não devia pensar nos
vizinhos... Eles nunca pensaram em mim; acredito em amor recíproco.
Quando uma música toca aos meus ouvidos dizendo “It’s gonna
be alright...”, eu procuro um certo conforto, e acho muito pouco, apenas penso “Tudo
ficou bem até agora, não é não? Você voltou de todas as viagens...”. Como é que
o Bukowsky escrevia sempre bêbado?
Quero respeitar o garoto bom, e quero respeitar a garota. Quero
poder olhar o beija-flor, e não me sentir estranho demais para admirar algo tão
sublime. Me estranham, e retribuo. Acredito na reciprocidade.
Você é alguém, mesmo que despido de ego, e lhe chamo, às
5:19 da madrugada de um sábado morno, de sangue imaginário. Eu devia escrever
um livro, antes que uma faca me encontre, antes que eu crie mal-gosto, antes
que minha música entre na moda, antes que a gente dê um corpo à tudo o que
acontece em nossas cabeças, antes que... A gente perca a “mão”.
Reconheço meu riso no seu, e sei que sou lido por poucos;
poucos leem minha face, minhas faces. Pois é, acredito em toda aquela
reciprocidade, e acredito que algumas mãos deveriam emagrecer para caber em certas
luvas. Por luvas, digo gente. Conheço pouca gente, e deveria ler mais, escrever
mais, e perder a vergonha e o pecado cristão. Eu deveria viajar pra Europa, e
conhecer uma garota sardenta, de vestido florido.
Garoto Bom, um dia desses você vai morrer, e vão dizer... “Oh,
my... Oh my.”