sábado, 23 de fevereiro de 2013

"A Agenda de Série de Auto-retratos"


Seria de bom grado ser compreendido numa noite dessas, sem a sensação de que falei demais, sem a cobrança dos assuntos paralelos que chegam como bullying enviado por torpedo na sala de aula. É desagradável ter a consciência de que preciso explicar a piada, e de constatar que normalmente ela é sem graça. Não sei se o Coringa se diverte todas as noites. É muito fácil acreditar que o céu estrelado me fez pegar as letras, e coloca-las justapostas em direção ao chão... É daí que você me vê, de cima de um edifício (nenhuma alusão ao suicídio, fique tranquilo). Nenhuma alusão à vida que conheci, e nenhum tipo de parábola, nenhum mestre a ser seguido; alguns assuntos a serem pensados antes de pegar no sono. O sono, que vem em hora indiscreta, que me mantém imaturo em tardes de quarta-feira. É difícil chegar aqui, e a vista é como a de qualquer outro ao meu lado, vejo o palco mais ou menos... E novamente, não havia extintor de incêndios no local, meio que a banda não pôde tocar.

Quando me lembrei de como nosso amor era bonito, lembrei também daquela imagem do GG Allin sangrando com a tatuagem escrita “Life Sucks”; sem desmerecer nada, sem me sentir agressivo, é apenas uma lembrança, que se funde também com o sabor de café com leite, e uma tarde no sítio de um desconhecido. Nada pode ser isolado, nem a sensação de que tudo é perfeito; e tudo é perfeito, mesmo que eu me sinta desse jeito. Faz parte de quem eu sou, e o tempo nos foi gentil; gosto de saber que passado é imaculado, mesmo depois de conhecer seu bisavô, aquele que conheci roncando no quarto ao lado, e não era um sonho (Doença? Como preferir...), e ele não era simpático. Falo sobre um inferno iminente que evitei voltando a conversar com os outros. Soo como um mosaico de recortes de revista, como a carta de um maldito homem que não vê o sol há dias, e quer que alguém faça parte de um tipo de jogo dinâmico, onde você pode ganhar um prêmio que não pode ser mostrado à ninguém; eu sempre tentei ser carinhoso, mesmo com desconhecidos. Nenhum deles me tirou o chapéu... Na realidade, ninguém reconheceu o esforço, nenhum dos desconhecidos (você reconheceu um esforço distinto, meu esforço de levar em frente a personagem, usar a roupa certa na hora certa, e dar um toquinho com soquinho naquele amigo bêbado que eu tanto amava, e que não queria me deixar em paz).

Seria interessante que eu não precisasse dizer nada, e nem mesmo me justificar para o branco em minha mente; ele não questiona nada, mas faz uma falta algumas palavras boiando por lá! São estas palavras aqui, estacionadas em margem, sem pretensão alguma de chegarem à você. Não há convergência agora, apenas um grande espaço, um certo tipo de coerência que veio com os dias mais vividos. Vividos com um grande ser se manifestando através de mim, o monstro bonito que você vê na rua, que é mais do que eu poderia imaginar aos treze anos, e algo mais incompleto do que minha sensação de “expectativa de vida”, 72 anos? Acho que era algo parecido. Preciso parar de pensar no futuro.

Saber que estou em paz agora é mais perturbador que a paranoia que vivi nos ônibus de Curitiba à SP. E estou em paz, pronto pra conhecer vida nova, e pronto pra entender que a vida talvez seja imutável, ou que a palavra “chão” é uma figura de linguagem, assim como “Oi, tudo bem?”. Queria que esta paz transparecesse, e que esta cara que tenho desde quando comecei a ter espinhas não fosse meu cartão de visitas.

Sempre falo de minha vivência solo como um tipo de submundo; preciso de um novo vocabulário, e preciso parar de me preocupar com a dialética. Um novo horizonte se põe à minha frente, e não estou sendo irônico, falo sério na maior parte do dia; este dia longo, que torço para que nunca acabe. Não há preocupação, senão pelo plasma que está em minhas dobras, as emoções que tanto finjo que não afetam minha consciência; minha consciência de são, meu comportamento de rapaz com saúde. Só tenho em mente aquele horizonte, e não falo mais em roteiro, nem em versão minha no crepúsculo de minha mente, pedindo pra sair; tudo isso foi uma fase, assim como aquele tempo em que eu colocava alto CDs que meu amigo metaleiro me apresentava (na verdade aquilo não era metal). Tenho fama de falar ao vento, de não ter um foco pragmático em meus assuntos... E sabe, isso é apenas o vento falando, respondendo às minhas lamúrias. Sei muito bem do que se trata, e isso é mais importante do que um queixo caído em aprovação. Não sei por que dor no peito, mas existe, apesar do horizonte, que não é metáfora; tudo aquilo que relato, sempre vejo e sinto, antes que o código alfabético se coloque à minha frente como um solícito empregado de caminhão de mudanças. Queria mesmo ser compreendido, mesmo que por cima; aquele olhar de... “Entendo o que você quer dizer.,.. Figura de linguagem.”, é realmente algo que eu gostaria de transpor.

Quando pensei em pedir uma série de fotos minhas, estilo James Dean antes de bater as botas, eu deveria ter pensado melhor; uma série de auto-retratos seria mais veemente, mais que palavras e coisas que soam (odeio isso) como ilustrações figurativas para minha mente criativa (E novamente, sem conclusões precipitadas, ok? Falo apenas do dia de hoje). Já me sinto melhor, e o horizonte é de verdade, do céu que amanhece, e não daquele lugar que sempre soa como submundo.

O passado faz muito alarde, e sai pelos poros, mas sempre falo dele como boas novas; o possível, “Se nos livrarmos deste mundo deturpado que nos apresentaram ”. Novos mecanismos de cognição, um mundo sem nomes, a ausência do tempo, e tudo isto sou eu.  Hoje a espontaneidade é aceita, e não louvada. Deve ser por isso que alguns me consideram um “cara legal”.