sexta-feira, 6 de julho de 2012

Anedotas da Carcaça - Parte I


Não sei se já notou... Eu não sei para quem escrevo na maior parte das vezes. Geralmente isso não é uma carta, nem um diário. Só escrevo quando a necessidade berra. Hoje ela berrou, porque me vi puto; mas calma (!), esse não é o final da história... Depois me inspirei, e reaprendi a sorrir. É engraçado como coisas aparentemente ridículas levam à reflexões que mudam nossa perspectiva!

Hoje vi um casal bonito (pelo menos a garota era bonita) rindo de mim à distância, numa fila de cinema. Olhei pra eles com nada que se parecesse com um sorriso, o que fez com que a vergonha que eu senti fosse refletida... pelo menos 70% da vergonha. Sabe aquele truque que fazemos quando queremos falar pra alguém que tem uma “figuraça” por perto, e então dizemos “não olhe agora, mas...”; pois é, peguei-os bem nesse momento. Depois vieram as risadas. São adolescentes, não fariam diferente nem que quisessem. Minha namorada não estava comigo, o que me deixou com menos credibilidade (hahaha, eu sei); algo do tipo, figurão loser. “Gordo, com cara de porteiro (?)”. Não sei o que pensam de mim, e não me importo, contanto que não riam da minha cara.

Após andar em círculos perto da fila do cinema, impaciente, puto com as minhas últimas notas do boletim da faculdade, e com a convicção de que eu era uma piada naquele contexto maldito de shopping center, pensei:

“ – Que lugar de merda... Gostaria de poder fazer algo para mudar o jeito como temos de nos portar, e andar, e toda essa coisa horrorosa. Nada disso é espontâneo ou verdadeiro!”

Se pararmos para pensar que não nos relacionamos com 98,9% (quem sabe?) das pessoas que vemos em nossas jornadas diárias, não é de se espantar que estejamos tão empobrecidos, neste Ocidente maldito. “Imaginação é mais importante do que conhecimento”, cita Einstein, mas no nosso contexto, tudo o que foge da carne, e da pedra e do asfalto, é considerado fantasia, misticismo... “Não é nada que eu possa pegar, ou ouvir um homem de terno dizendo que é verdade! Então... Não, não é verdade”, diria um idiota.

Pois não tiro minha carranca, nem meu uniforme, nem mesmo minha musa sanguinária do pedestal, para criar um ambiente mais confortável para 98,9% da população que vejo nas ruas, para me fazer parecer mais um que tolera futebol, novela, e todo o resto, que são apenas o lodo que envolve a boca-de-lobo, que leva ao esgoto pútrido que é a consciência oficial, massificada, de nossa população ocidental.

 Por Ocidente, especifico a pequena porção de Terra que conheço. Não posso falar do Oriente; não o conheço, e por isso para mim, ele significa esperança de que um pouco de evolução real ainda esteja acontecendo na Terra.

Quanto à minha musa sanguinária, ela me aguarda, e choro por ela sempre que vejo aqueles monstros sugarem de sua vida. Tenho-a somente para mim, e descobri-a por meio de solidão, que é um trem só de ida; um trem , no qual só olho para seu interior de vez em quando. Ter a cabeça para fora da janela tem sido uma obrigação, uma terapia de choque, uma experiência desagradável em boa parte do tempo. Alguns acenam, alguns riem, e alguns não notam que estou ali deixando que minha musa seque, para o bem desse meu ilusório e maldito Ocidente.