O que
fascina na beleza dos perturbados é que ela é feita e vivida para eles mesmos;
o fruto disso é o horror de estranhos, o que lhes agrada, são incompreendidos.
Os que procurei entender nunca me encucaram, procurei entender porque me achava
parecido; nunca pareci.
Hitchcock
está certo sobre estradas quando se está sozinho; a amplitude do espaço ocupado
por desconhecidos não é nada além de hostil, os faróis que iluminam meus olhos
não se chamam luz, aquilo dói, e são os outros que me apontam estas adagas.
Morar com a mãe depois de adulto também não é tão saudável quanto poderia
parecer; ela não gostou nada do meu retrato de Bates cercado de aves
taxidermadas segurando a mão de sua falecida mãe na cadeira de balanço... Mas
que tolice, qualquer um sabe que ele não faria mal à uma mosca!
É importante
ser gentil com desconhecidos, após olharmos em seus olhos temos um certo tipo
de responsabilidade sobre eles; conhecerão nossas peculiaridades, e nossas
mães. Ter um jardim é tão importante quanto ter um labirinto, e os dois têm a
mesma função, trata-se do que é cultivado em segredo por trás dos arbustos,
conheci garotas atrás de alguns... Já falei sobre isso algumas vezes, gosto de
economizar esse tipo de coisa. Eram garotas bonitas, numa avenida estilo
Broadway, só que tudo era espelhado reversamente, o fluxo contrário era
luminoso, e a luz na verdade era plasma; isso até que tudo começou a se esvair,
e outro dia vi o filme todo passando novamente diante dos olhos. Posso chamar
flashbacks de filmes, certo? Prefiro a palavra déjà vu.
Ele estava
certo sobre cutucar a ferida com o cano de uma Magnum, sempre tive problemas
com insônia, e durmo como morto, todos os dias, à tarde. Pássaros são
conspiratórios, assim como besouros, que se juntam aos montes nos bolos de
receita de M. Crowley, feitos para olhos estranhos e cada vez mais sedentos que
se lançam em minha direção, como faróis na estrada.
Desta vez
não se trata de um sonho, realmente minha pele sentiu. Ao chegar na casa de um
desconhecido (cheia de velhos amigos), fui cumprimentar um rapaz que conheço há
anos, ele cozinhava frango, e servia-o com palitos de dentes aos convidados,
ele desviou de certa forma o prato com aperitivos de minha mão. Estendi minha
mão à ele, e ao aperta-la ele apertou-a firmemente; senti uma agulhada na aparte
inferior, onde ele segurou com o indicador, dedo médio e anelar. Aquilo foi
desagradável, e pareceu hostil, meu pescoço se arrepiou, e fiquei refletindo
sobre o que poderia ter sido aquele aperto de mão doloroso. Momentos mais tarde
eu tentava tirar da mão uma farpa, um espeto, algo que estava lá dentro; minha
companhia ao meu lado me perguntou “Você passou glitter na mão?”, foi nessa
hora que percebi que minha mão estava coberta por finíssimos e minúsculos caquinhos
de vidro (perceber isso foi pior do que o aperto de mão em si).
Perceber
hoje onde vivo é pior do que viver onde vivo; dar nomes aos lugares, às
pessoas, separar situações devido a se passarem em diferentes ambientes, isso é
pior do que estar imerso nisso tudo. Minha mente julga, nomeia, separa, e isso é
desnecessário, não há foco; se eu pudesse assassinar minha mente, e continuar
consciente, de coração pulsante, de aura expansiva, de respiração clara, de
cabeça fresca... Eu não precisaria perceber coisa alguma, não há surpresas aos
olhos do Desperto. A vida é clara nas entrelinhas, e nós... Acreditamos ter aprendido coisas demais vendo TV.