domingo, 17 de março de 2013

"Please, teach me Hitch"


O que fascina na beleza dos perturbados é que ela é feita e vivida para eles mesmos; o fruto disso é o horror de estranhos, o que lhes agrada, são incompreendidos. Os que procurei entender nunca me encucaram, procurei entender porque me achava parecido; nunca pareci.

Hitchcock está certo sobre estradas quando se está sozinho; a amplitude do espaço ocupado por desconhecidos não é nada além de hostil, os faróis que iluminam meus olhos não se chamam luz, aquilo dói, e são os outros que me apontam estas adagas. Morar com a mãe depois de adulto também não é tão saudável quanto poderia parecer; ela não gostou nada do meu retrato de Bates cercado de aves taxidermadas segurando a mão de sua falecida mãe na cadeira de balanço... Mas que tolice, qualquer um sabe que ele não faria mal à uma mosca!

É importante ser gentil com desconhecidos, após olharmos em seus olhos temos um certo tipo de responsabilidade sobre eles; conhecerão nossas peculiaridades, e nossas mães. Ter um jardim é tão importante quanto ter um labirinto, e os dois têm a mesma função, trata-se do que é cultivado em segredo por trás dos arbustos, conheci garotas atrás de alguns... Já falei sobre isso algumas vezes, gosto de economizar esse tipo de coisa. Eram garotas bonitas, numa avenida estilo Broadway, só que tudo era espelhado reversamente, o fluxo contrário era luminoso, e a luz na verdade era plasma; isso até que tudo começou a se esvair, e outro dia vi o filme todo passando novamente diante dos olhos. Posso chamar flashbacks de filmes, certo? Prefiro a palavra déjà vu.

Ele estava certo sobre cutucar a ferida com o cano de uma Magnum, sempre tive problemas com insônia, e durmo como morto, todos os dias, à tarde. Pássaros são conspiratórios, assim como besouros, que se juntam aos montes nos bolos de receita de M. Crowley, feitos para olhos estranhos e cada vez mais sedentos que se lançam em minha direção, como faróis na estrada.

Desta vez não se trata de um sonho, realmente minha pele sentiu. Ao chegar na casa de um desconhecido (cheia de velhos amigos), fui cumprimentar um rapaz que conheço há anos, ele cozinhava frango, e servia-o com palitos de dentes aos convidados, ele desviou de certa forma o prato com aperitivos de minha mão. Estendi minha mão à ele, e ao aperta-la ele apertou-a firmemente; senti uma agulhada na aparte inferior, onde ele segurou com o indicador, dedo médio e anelar. Aquilo foi desagradável, e pareceu hostil, meu pescoço se arrepiou, e fiquei refletindo sobre o que poderia ter sido aquele aperto de mão doloroso. Momentos mais tarde eu tentava tirar da mão uma farpa, um espeto, algo que estava lá dentro; minha companhia ao meu lado me perguntou “Você passou glitter na mão?”, foi nessa hora que percebi que minha mão estava coberta por finíssimos e minúsculos caquinhos de vidro (perceber isso foi pior do que o aperto de mão em si).

Perceber hoje onde vivo é pior do que viver onde vivo; dar nomes aos lugares, às pessoas, separar situações devido a se passarem em diferentes ambientes, isso é pior do que estar imerso nisso tudo. Minha mente julga, nomeia, separa, e isso é desnecessário, não há foco; se eu pudesse assassinar minha mente, e continuar consciente, de coração pulsante, de aura expansiva, de respiração clara, de cabeça fresca... Eu não precisaria perceber coisa alguma, não há surpresas aos olhos do Desperto. A vida é clara nas entrelinhas, e nós... Acreditamos ter aprendido coisas demais vendo TV.

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