domingo, 28 de novembro de 2010

Mr. Silent se esvai e seca.

Bem brevemente, e de braços cruzados, lhe digo que a aurora já se pôs num passado próximo. A graça toda da aurora era que não se sabia a magnitude do sol que viria, e nem os monstros que sairiam dos troncos podres de nosso pequeno e cercado bosque. Que maldição! Nós, cercados de arames farpados; nós, indigestos e inodoros; deixados pelo armagedom, deixados pela cor, e pelo som. Ainda consigo me lembrar daquela fenda no céu, da música que de lá saía, e das formas que aquilo fazia minha mente ver; me lembro que tudo o que era prezado, e valioso entrava por aquela fenda... e nós, nos segurando para que o ralo terreno não nos sugasse, por isso fomos deixados.

Sei que é difícil colocar uma trilha sonora pra tamanho esvair de plasma. Neste, na realidade, prefiro o silêncio. Nem mesmo Mr. Silent quis ficar calado... ele se esvai também, sem cornetas ou violinos.

Há porém, um baita berro, daqueles que eu sei que você necessita; posso lhe passar o endereço, e assim, a gente entra de novo, cada um em seu tronco podre, e paramos de fingir que não somos monstros.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Outra secreção da vida, vulgo George.

“De repente... vai que cai um raio na minha cabeça e eu não posso mais brincar... uaheuae Brinco enquanto é tempo, enquanto o tempo é jovem, enquanto a idade ainda me persegue.
Enquanto ainda sou secreção da vida, vida essa que brinca de me dar caldos na piscina d’um clube mais que mequetrefe, digo sim: ‘O raio ainda é você’. Não que eu não queira te ver na rua, nem nada. É que... tenho esse mal, de achar que se tu cais em minha cabeça, ou me atropelas, hã... posso cair na real.

Não me importo em deixar algo que grite mais alto lá pelo meio da estrada, ou para o final do filme, onde já existem poucos receptores e pouco ânimo. Alguém, lá da outra base do universo ainda não visto, irá dar um tapinha nas costas deste papelzinho que deixo no lugar mais comum que encontrei.”
Ass: George.

Putz. É mais uma daquelas noites, em que noitadas são impossíveis e que a memória reproduz o gosto de tudo que mais aguça a memória. Numa hora dessas a memória te consome. E, vai...! O que te mostra os dentes agora não é nada mais do que um tique nervoso.

- Não acredito que aquela mula (George) escreveu para mim de novo! Será que... Não! Entender, ele entende, apenas não se respeita. – Eva, rasgando o papelzinho.

- É óbvio que ele não se respeita! Quando foi a última vez que ele foi respeitado? – Complementa Ariadne, fumando um cigarro como quem se agarra a uma tábua de salvação.

“Qual era o endereço de onde deixei aquele papelzinho mesmo? Será que importa? Mas, ah, olha só..!” Pensava George, quase que sem veias saltadas na testa, como de costume. “O negócio que me prende aqui, ouvindo, e bebendo, não é você que logo está no espelho assim que eu olho. Digo outras: o que me prende aqui é uma memória! Memória do que aquele da foto já anarquizou. Então, quando quiser deixar de ter um couro bruto, e um miolo rígido, só dê uma olhada de relance no espelho, e verá que nada ali te lembra o cara da foto, pra que você se deixe ser tão frouxo!

Não consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo, então não faço muita coisa... já que gosto de fazer tudo o que faço ouvindo música e, considero ouvir música ‘fazer algo’. Tá, deslizes à parte, posso olhar de relance também para aquela sarjeta tão prolífera em vida, daquele mundo que estou incumbido a resgatar, restaurar, e arquitetar. Os sonhos têm sido dos melhores! Com tanto sentido... que até comove. A maneira de escrever o passado naquele dia de quarta-feira era com certeza, o mais racional de todos.

Não sei no que pensar agora, mas sei que vem algo do tipo: ‘aproveite que ninguém está olhando e mije naquela sarjeta!’. Gosto de me sabotar, mas nesses últimos dias tem tido muito em jogo, nada como um olho de vidro pra quebrar, ou um coquetel de maledicências para virar sem pensar. Tudo isso acumularia líquido em demasia.”

- Conversa de bêbado aquela do George.! Você não acha que ele teria de dizer tudo o que ele pensa para a fiadeira, e deixar as crianças se divertirem, sem que saibam das dívidas que ele tem quando se deixa frouxo, sem aquela casca, que bem... já nem lhe protege tanto assim? – Dizia Paulo, o garoto que abençoara George, bem antes d’ele ser capaz de escrever em qualquer papelzinho (escrito para ser colado no banheiro feminino, como sempre).

- É... não adianta pedir a um ébrio que seja o executivo do mês. E de nada adianta pedir a um executivo (no caso, você) que divirta tanta gente que passa por aqui pra se ver sair da lama. – Dizia B.S., com aquele olhar vesgo de sempre.

George não compareceu as reuniões, e sente bem com isso. Sente-se melhor ainda por sentir-se tão frio, nesses dias tão afetuosos, e contagiantes. Ele não é um maquinista, não é o último vagão, por isso tantos trancos. Ele ainda acredita numa escala evolutiva, e vê que noites como essa, deixam boa parte da população querendo abandonar o couro bruto, e o miolo rígido... apenas pra ver se ainda é capaz de sentir a brisa.