segunda-feira, 25 de junho de 2012

Desentendimentos com um vizinho distante...


Na realidade, eterna como ela é, o senso de humor que o mundo tem exibe piadas tardias, que só deuses entenderiam. Nestas últimas pequenas eras, que nós, finitos, chamamos de noites, a lua tem tido um sorriso cada vez mais largo... Parece que alguém entendeu a piada! Noites são eras, pois existem seres que entendem menos ainda a piada; seres menores que nós, para os quais rimos, e assim como a Lua, debochamos e escarnecemos... Pobres garotos, pobres formigas, pobres diminutos deuses!

Não, eu não entendo a piada, e me ofendo com os dentes brancos, e com a beleza maléfica, que acima de todos nós pisca com infinitos olhos espaciais. O único tipo de piada que entendo é aquela que os cientistas aplicam... Nossa, aquelas piadas são demais! Utilizei de uma delas há pouco, se lembra? Falei algo sobre o Infinito. Isso sim é piada requintada! Me ensinaram-na antes de me ensinarem uma miserável anedota: o finito. Pois é... Eu não o conhecia, e um dia eu me deparei com ele, logo num cruzamento, depois do aceno de um desconhecido, quando meu pai se preparava para uma curva:

– Como ele morreu?! – Perguntei eu alarmado. Hoje não me lembro a quem me referia.

– Ele morreu de velho..! - Disse meu pai, naturalmente.

– Como assim? - Disse eu, que só tinha brinquedos e caretas em mente.

– Ah, todo mundo morre... Se não morre de doença, ou outra coisa, morre de velho!

Fiquei quieto, claro..! Sabe quando você diz algo como “Eu tenho 47 figurinhas!”, mas o outro simplesmente responde louca e estapafurdiamente “É? Pois eu tenho infinitas!”. Sim eu calo a boca em situações como esta, mas percebi que perante a respostas como “Ah, ele é finito, por isso morreu...”, confesso que algo dentro de mim se apaga, não se cala, simplesmente se apaga. Miserável anedota! Finito.

Tal anedota fere mais o homem sensato do que qualquer perfuração feita por tridente que o inferno poderia oferecer. O inferno vem depois. O finito é logo aqui.

Tentei fazer as pazes com aquele sorriso largo, mas me feri por tamanho deboche. Ao invés de retribuir com um sorriso torto, vim aqui falar das cáries daquele sorrisão. Sim, ele debocha, até mesmo quando elogiado. Elogiei-o, disse:

“– Tu te assemelhas a uma grande tigela, na qual deuses se alimentam de estrelas; de tão belo teu sorriso, colocaram-na no alto da estante, para que eu, assim como os pobres garotos, e pobres formigas, diminutos deuses, não pudéssemos maculá-la!”

Bem, foi mais ou menos assim... Eu esperava um beijo. Mesmo que esse beijo se resumisse no fim de minha pele; mas não, o sorriso largo e eterno me contou uma maldita anedota, pior do que a do finito:

“–Deixa, cara de ameixa! Já ouvi isso infinitas vezes, você é figurinha repetida!”

Sim, tenho inveja daquele sorriso. Não brinco mais com ele.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

"..."


Troque "solo" por "nada"
Troque "nada" por "..."
Talvez seja melhor trocar o "..." por um  "  ",
E agora estamos falando minha língua!

Nem a base e nem o solo
Nenhum deles constitui realidade
Te vejo perdido, desloca-se no "..."
Tu me olhas, e somos o nada

Ser tão sideral me trouxe um presente
Desembrulhei-o e joguei fora o papel
Não devia tê-lo jogado
Dentro dele nada havia além de "..."

A Terra circunda o Sol
E nós nos prendemos ao solo
Não estamos de carona com a Terra
Não voamos. Não vês que o solo tornou-se uma dimensão paralela?

Crime e pecado são os nomes das coisas
Malditos e torpes.
Teu nome te congela, te solidifica em carne.
Ao invés de nomes, melhor é um "  ".

quinta-feira, 7 de junho de 2012

"A estória do coveiro tolo e o fantasma que come lixo"


Existe um chamariz maior do que o engodo da morte plena? Pra mim, a morte é sempre morte. Mas, plena seria a morte-surpresa, aquela que não me deixaria deitado na cama tempo o bastante pra eu me arrepender de qualquer coisa que fiz, ou deixei de fazer. Esse é meu grande grilo: “Será que fiz, e faço mesmo o que eu nasci pra fazer?”.

O som distante que saía do rádio do carro hoje me dizia algo; distante, no sentido de ter sido emitido em vida há no mínimo 42 anos. Acredito que o som dizia algo sobre a constante busca que a morte realiza atrás dos ceifados em potencial. Encontrei no caminho alguém muito ávido em sua busca pela morte. Ele me pediu um real, e eu entreguei. Num assalto amistoso, eu acredito que tenha agido bem, até perguntei se o cara estava “na paz”... Como eu sempre faço inconscientemente. Ele não estava na paz, e aliás, me abordou dizendo “me salva”. Eu não o salvei, e não fui um herói. Não havia nada que eu realmente pudesse fazer. Meu foco era outro no momento; talvez ter menos contratempos possíveis no caminho para casa.

A alma moribunda me pediu que cobrisse seus pés em sua cova. Os pés eram aparentemente só o que faltava para ser enterrado; segundo dizem, o cara já é uma alma penada. Na realidade, no meio daquele maldito purgatório de almas, essa alma moribunda era o único que poderia me socorrer, caso, algum assombrado quisesse me enfiar um cutelo. Ele se fingiu de segurança, e eu me fingi de bobo.

Nunca fui um herói. Em minhas maiores aventuras, eu fui o executor, ou o aprendiz maligno. Posar de anti-herói, aqui, para quem quiser me ver, é mais do que uma satisfação.

Sim, já fui de encontro ao revés, por ter esquecido como era; me lembro agora que o revés tem rosto fantasmagórico, e gosta de brincar com suas crianças como se fossem ossos. Lá, fui agraciado, por não ser criança, e sim, um rapaz de chapéu esquisito se fingindo de bobo.

Eu sei, não devia ter respondido ao eco do bueiro, mas era uma voz tão distante... algo de 40 anos atrás, provavelmente , ou mais... Bem mais!

O fato pelo qual me sento aqui trêmulo, é o de que eu não sei se deixei o dedão daquele cara pra fora de sua cova. Eu poderia ter voltado, e checado, mas seria um contratempo. Cheguei em casa pontualmente, como planejado, à salvo o bastante para transformar em estória um acontecimento aparentemente medíocre, mas que me transformou. Em estórias como esta, sou apenas o coveiro, que para à beira da estrada para comprar charutos, antes de ir à luta, e não o cúmplice de assassinatos de auras. Acredito que seja por isso que vejo tanto prazer em escrever.

domingo, 3 de junho de 2012

À Srta. Miggns, minha sunny sister.


Srta. Miggns,
Quando você diz que sua mais singela carícia derramada entre teclas é pobre... Bem, eu fico desconcertado. Lembra aquele lance meu, de não saber mostrar emoções ao receber presentes? Isso aconteceu com essa carícia. Não sei se sei presentear também... tudo o que dou de presente, faço primeiro para mim; você sabe como é.

Pouca gente te conhece. Muita gente me diz: “Sua irmã é muito firmeza”. Mas será que eles conhecem a fundo seus talentos, e sua mente, que pensa com letras? Será que sabem algo sobre seu lado que se vê feliz da vida por ser filha de uma fã de circo de palhaços pobres? Não sei se eles sabem. Gostaria que soubessem! Acredito que minhas mãos sejam ásperas para alguns tipos de carícias... mas podem ser boas para desenhar cartoons desajeitados. Esse “desenho” aqui é pra você.

Acontece um negócio estranho nestes novos dias, de um mundo de ar viciado; aquele frescor do sopro das manhãs de dias de semana, nos quais nos levantávamos para ver desenhos, e gritar ‘bruxa’ ao invés de Xuxa, esse sopro parece escasso... Mas olhe só! Temos snorkels! Snorkels estes, que elevam nossos espíritos à superfície, e sentimos novamente o frescor, que não descartamos (como muitos outros parecem ter feito), por sabermos que ainda precisaríamos dele, pois ainda somos crianças. Damos inspiradas nesse novo ar que nos cerca, sempre que estamos de pijamas novamente, mesmo vinte anos depois! Você continua morando dentro de uma grande botina, com janelas que dão para um grande gramado, onde você põe suas tortas para esfriar, feliz por ser uma linda camundonga, dançando ao som de músicas em alta rotação (daqueles discos antigos do nosso tio); e eu ainda sei fazer as micagens da dança que batizei de “dança do Jimmi Hendrix”.

No início de nossa caminhada, você foi como uma grande árvore, na qual eu me recolhia sob a sombra, e era uma sombra agradável, nunca opressora, e nunca em hora de almoço ao meio-dia. Você nunca me diminuiu na frente de seus amigos, nem quando você era pré-adolescente, e isso era sempre um feito épico (!), mas pra você era natural. Você me ensinou respeito, postura, personalidade, e a importância da criatividade, e dos detalhes. Você me mostrou que Rock é uma coisa boa. Sempre me incentivou a compor, mesmo quando eu não sabia praticamente nada de guitarra, e você sabendo ler partituras há tanto tempo.

O tamanho do respeito que temos um pelo outro nos permite crescer, e nos permite ainda olharmos um para o outro como provavelmente gostaríamos de ser vistos. Você é a prova viva do que nossa mãe nos ensinou sobre família; você é o Porto Seguro.

Sei que você me entende, e fico mais do que feliz por isso. Sabe que sou um tanto abstrato, e até chato de vez em quando. Me deram um cérebro tão fragmentado e esquisito, mas me deram uma irmã para entendê-lo pra mim. Você me entende melhor do que eu, e entende minha piadas, e até minha indignação ao constatar que alguns batizam discos e quadros ‘seculares’ de “demônios domésticos” (Jeezus! Será que era isso mesmo?).

Te amo demais, ermã! O domingo ensolarado que tanto procuramos, ao meu ver está cada vez mais próximo.  

Você sabe que eu gostaria de me virar do avesso; essa é minha natureza, mas me sinto um robô aqui na frente dessa tela... Sou bem mais humano de pijamas.

 Sem você, eu não seria possível.
 Obrigado pelos seus feitos épicos diários.

  


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Não há problema. Nem em mim, nem em você.


Me perguntei há momentos atrás, se estaria pronto, caso quisessem me levar. Me levar para onde? Para longe da mediocridade. Acredito que eu não saiba o caminho... por isso teriam de me levar até lá. O mais interessante a respeito desta questão é que eu não sei quem seriam essas pessoas, ou esses seres, essa grande e luminosa consciência elevada. Tudo isso se trata de um grande mal-entendido, de um erro de tradução. Nada pode me arrancar do solo. Minhas raízes há muito se alimentam da mesma fonte, e provavelmente eu não conseguiria me alimentar de diferentes nutrientes, por mais ricos que fossem. Gostaria de acreditar no contrário, mas hoje, não acredito.

Fico em casa, me agasalho, e cuido das frieiras. Não me constranjo, por incrível que pareça, com estas afirmações tão cansadas, e também tolas. Este ser rabugento que gosta de relatar, nada mais é do que o cara que tantos vêem no dia à dia, mas têm medo de cumprimentar, porque essa rabugem parece contagiosa, e grudenta.

Encontro as respostas, e não fico feliz com elas, por isso lhe relato, e fantasio; finjo que nada do que é dito é real, e que faço agora uma pequena peça de arte. Hoje sei que isso é falso, e que a arte em si tem se afastado de mim, assim como a imaginação e outros monstros. Fico feliz por um momento, por poder xingar meus ídolos, que tanto escarram em minha cara. Me parece que todo esse catarro está tapando minha visão para os grandes e reais ícones de minha vida, de minha família, de meus caminhos.

Tenho apenas gratidão, por todos aqueles que se fizeram ouvidos, e que compartilharam comigo de algo mais poderoso do que um filme numa tarde mórbida, ou um sorriso amarelo. Lágrimas são tão poetizadas hoje em dia que fico enojado; algumas coisas são sagradas (!), e assim devem permanecer.

Pedir perdão está fora de moda, assim como fora de alcance, e também fico feliz por isso. Minha boca se mexe, e se faz soar, mas nada do que digo faz tanto sentido quanto o que digo apenas para eu mesmo, e relato aqui (por isso, talvez, estas coisas façam tão pouco sentido para você de vez em quando).

Ter a mente como geleia seria uma boa, nesta sexta tão rígida e seca. Sei que não é divertido passar por aqui, e se deixar levar por tão ríspidas constatações, deste velho ermitão preso no corpo de um moleque; por isso tento me fazer breve, e nunca ultrapasso as margens que nossa relação estabeleceu há tanto tempo.

Não acredito que haja nada de errado comigo, nem com você. Mas tenho tido uma vaga ideia (muito, muito vaga) do que pode estar acontecendo.

O que falei até agora é um tanto extenso para ser uma introdução ao que realmente interessa, mas é assim que é. Gostaria de lhe fazer um pedido, como amigo, de igual para igual, sem fingir ser artista:

“Num dia desses, numa noite como esta, de sexta, você poderia me dizer o que há de errado no ar que nos separa? Será que é falta de umidade? Pois ele não é mais o mesmo condutor de energia que era antes. Me diga, e serei mais grato ainda.”

Tenho sido intimista, e tenho perdido a vergonha na cara; mas não me interprete mal... Posso te ajudar a organizar sua saga; posso lhe mostrar onde é o começo, e onde é o meio (talvez o diga porque quero parecer útil, mas realmente acredito no que digo). Em relação aos fins, cada um tem o seu.

Ainda sinto doçura nos abraços, nas conversas, por mais breves que sejam. Só não quero que desista de mim, não antes de me dizer o que há de errado com o ar que nos separa.