Me perguntei há momentos atrás, se estaria pronto, caso
quisessem me levar. Me levar para onde? Para longe da mediocridade. Acredito
que eu não saiba o caminho... por isso teriam de me levar até lá. O mais
interessante a respeito desta questão é que eu não sei quem seriam essas
pessoas, ou esses seres, essa grande e luminosa consciência elevada. Tudo isso
se trata de um grande mal-entendido, de um erro de tradução. Nada pode me
arrancar do solo. Minhas raízes há muito se alimentam da mesma fonte, e
provavelmente eu não conseguiria me alimentar de diferentes nutrientes, por
mais ricos que fossem. Gostaria de acreditar no contrário, mas hoje, não
acredito.
Fico em casa, me agasalho, e cuido das frieiras. Não me
constranjo, por incrível que pareça, com estas afirmações tão cansadas, e
também tolas. Este ser rabugento que gosta de relatar, nada mais é do que o
cara que tantos vêem no dia à dia, mas têm medo de cumprimentar, porque essa
rabugem parece contagiosa, e grudenta.
Encontro as respostas, e não fico feliz com elas, por isso
lhe relato, e fantasio; finjo que nada do que é dito é real, e que faço agora
uma pequena peça de arte. Hoje sei que isso é falso, e que a arte em si tem se
afastado de mim, assim como a imaginação e outros monstros. Fico feliz por um
momento, por poder xingar meus ídolos, que tanto escarram em minha cara. Me parece
que todo esse catarro está tapando minha visão para os grandes e reais ícones
de minha vida, de minha família, de meus caminhos.
Tenho apenas gratidão, por todos aqueles que se fizeram
ouvidos, e que compartilharam comigo de algo mais poderoso do que um filme numa
tarde mórbida, ou um sorriso amarelo. Lágrimas são tão poetizadas hoje em dia
que fico enojado; algumas coisas são sagradas (!), e assim devem permanecer.
Pedir perdão está fora de moda, assim como fora de alcance,
e também fico feliz por isso. Minha boca se mexe, e se faz soar, mas nada do
que digo faz tanto sentido quanto o que digo apenas para eu mesmo, e relato
aqui (por isso, talvez, estas coisas façam tão pouco sentido para você de vez
em quando).
Ter a mente como geleia seria uma boa, nesta sexta tão
rígida e seca. Sei que não é divertido passar por aqui, e se deixar levar por
tão ríspidas constatações, deste velho ermitão preso no corpo de um moleque;
por isso tento me fazer breve, e nunca ultrapasso as margens que nossa relação
estabeleceu há tanto tempo.
Não acredito que haja nada de errado comigo, nem com você. Mas
tenho tido uma vaga ideia (muito, muito vaga) do que pode estar acontecendo.
O que falei até agora é um tanto extenso para ser uma
introdução ao que realmente interessa, mas é assim que é. Gostaria de lhe fazer
um pedido, como amigo, de igual para igual, sem fingir ser artista:
“Num dia desses, numa noite como esta, de sexta, você
poderia me dizer o que há de errado no ar que nos separa? Será que é falta de
umidade? Pois ele não é mais o mesmo condutor de energia que era antes. Me
diga, e serei mais grato ainda.”
Tenho sido intimista, e tenho perdido a vergonha na cara; mas
não me interprete mal... Posso te ajudar a organizar sua saga; posso lhe
mostrar onde é o começo, e onde é o meio (talvez o diga porque quero parecer
útil, mas realmente acredito no que digo). Em relação aos fins, cada um tem o
seu.
Ainda sinto doçura nos abraços, nas conversas, por mais
breves que sejam. Só não quero que desista de mim, não antes de me dizer o
que há de errado com o ar que nos separa.
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