domingo, 2 de maio de 2010

"Refluxo"

Descobri um restaurante bacana, onde se tem o que se pede. Eu pedi refluxo, e cá estou, a dedicar pouco movimento ao fim do dia. É como um amigo meu diria: "Pessoas assim não merecem o que aprendem, pois não aprendem com a vida, e sim com papiros".
Fiquei sabendo que o tal restaurante não aceitava cartões de crédito. Quis saber o porquê.

-Escorri alguns metros, além do óleo; nossa, a esclerose é o que temem os que não dormem. Fale com um amigo seu após desejar morrer, depois de não dormir em paz. Escorre! Tudo escorre, e vai, cara.. do tipo... hup! Desejo mal, não a mais alguém... desejo à mim. Sou o brinquedo favorito de meu lobo. O maluco morde e agarra com os pés, voa, e com binóculos de carne apenas olho para o cemitério, meu olho grita, como o do Popeye, após o espinafre batizado.


- Você não se cansa de recitar cultura pop com os nerds de olhos grandes?

- Não sei se é bem isso que acontece. Esse negócio de dialogar é bem velho. Vem um formato de estourar espumante com isso.

- Nossa, que ridículo... você se liga em brindes, né não?


- Olha, você tem olhos grandes, mas não foi porque eu quis assim. A mente fabrica, e é tecido... nada de trocadilhos por um momento, ok?



Pessoas de olhos pequenos, ouvindo o que três punks pensavam, mandaram algo pra central, que fica do outro lado do cemitério. A mensagem só chegou ao punk do meio esquinas depois. Bem depois do cemitério.

- Fui mijar no cemitério hoje... é uma vaga concorrida aquela do mictório; já quem não tinha onde cair morto mijava nas roupas mesmo. Quase vomitei... o cobertor do cabra era como... uma tela de micróbios, toda infiltrada.

- Nossa, que poético..! Claaro! O que nos dá ânsia é que significa algo, alguma coisa digna de poemas.


- Maminha? – Pergunta o garçom querendo ser charmoso para a dupla de cínicos.

- Moço, meus talheres estão do lado esquerdo de meu prato. Não obrigado.


O diálogo foi interrompido por uma dúzia inacabável de garçons. Eles revezavam, alguns trocavam de espeto com o outro, para não parecerem garçons repetidos.

- ‘Costega’? – Perguntou o garçom de azul listrado.

- Hein? – disse Cleidman, que havia entendido o que o cara queria dizer, mas resolveu tirar sarro.

Com seus dentes perfeitos e dicção de professor televisivo, perguntava: ‘Costega’?


- É. Quer? – O garçom, usando de um truque ótico, olhou para os dois lados da mesa ao mesmo tempo, focalizando Cleidman do lado direito, e Otair na diagonal esquerda. – Vão querer? – perguntou o garçom atarracado, limpando o sebo do rosto e semi-pescoço na manga listrada de azul.

Sem forças, Otair apenas alega: “Precisamos da conta, moço”.

Notando algo de estranho em Cleidman, Otair vê que o cínico escreve por debaixo da mesa em seu caderninho azul.


- Cara, se você disser que está escrevendo sobre as presentes cicunstâncias nessa bosta de caderno, e eu não me responsabilizo..! Saio sem pagar minha conta, e pode me desconsiderar como amigo seu!
Cleidman apenas tira debaixo da mesa um poema, no título se lê “Ânsia”.

Otair não se responsabilizou por seus atos; mas como o cinismo é uma caixa de bombons, Zeus conseguia ver Otair e Cleidman, embrulhados em ternos e cocaína, sempre parecidos um com o outro.

4 comentários:

  1. Ah, Rafael.
    Textos sempre quase impenetráveis. Comecei e recomecei umas trÊs vezes. Mas enfim, consegui chegar ao fim e enxergar um cenário super bacana.
    No início, meio complicado, mas que faz com que a atenção e a imaginção aflorem, no fim, tudo pode ser compreendido.
    Adoro isso, viu?

    Gosto muito de ler você, consigo ficar totalmente aqui, me perco até.

    Ótimo texto.

    Beijão, Rafa

    ResponderExcluir
  2. Isso foi mesmo uma conversa? (risos) Como colocado muito bem por Carol, quase impenetráveis de tão subentendidas as suas intenções... sempre bem bordado. Tecido cautelosamente.

    É a impressão que fica.
    E ah, eu odeio refluxo!!!

    ;P

    beijocas.

    ResponderExcluir
  3. Acho que os comentários acima resumem bem o poder do seu texto... a imaginação, de fato aflora... Texto incrível!

    abraços meu amigo

    ResponderExcluir
  4. Isso aconteceu? ahuahuah
    Gostei, costega deve ser bom...
    Abraço

    ResponderExcluir