segunda-feira, 7 de junho de 2010

'O Barco do Sr. Engodo'

O senhor que vejo dentro de mim é seco, e muito sério, apesar de eu estar muito besta e adiposo. Acabei de sair de um paginário, e o que trouxe em minhas mãos brilhava, como a face traseira de um rosto (que só é de carne no final das contas); se almas brilham, são como a vida, tornando assim o mundo dos mortos apenas um mundo a parte. Mas se é preciso tocar a jugular de um cadáver fresco para saber se está mesmo morto ou não, pergunto: “que brilho seria esse o da alma?”. Prendi minha respiração antes de ontem, e localizei com destreza minha jugular; está tudo mais claro agora, porém, mais duro, assim como a vida era antes.

Ao sair do paginário, refiz minha rota tão familiar, onde havia gente, esqueletos dentro delas, e o brilho estranho, que se vê tanto no céu, como nas faces. Imaginamos tais coisas? Há brilho? Há faces? Acredito que o que se vê nos galhos ‘felpudos’ de árvores medonhas, é o que vemos nos rostos. Por que o digo? Porque vejo rostos barbudos em árvores, e vejo neles constelações de passarinhos, pássaros e outros seres alados. Não os vejo mais com tanta frequência, mas está tudo lá, sei que está. Até porque o que escorre dos olhos nada mais é senão pré-dejetos de orifícios puros. Em algum lugar do universo toda essa água vira remela, como no mar que faz engasgar, que faz flutuar mais do que outros. Este barco porém, não flutua, como é dito nas embalagens de barcos infantis, de brinquedo, ou artesanais. Este barco meu caro, é feito pelo Sr. Engodo, e não cheira tão mal quanto uma nau que carrega senhores sisudos europeus, ou de todo o mundo, o engodo pois tem cheiro de charutos, de cacau, e de decotes.

Trastes de cá já deixaram suas petecas na nau mas ninguém lá joga. As jogo no mar, que é a única coisa real que vejo agora, até quando bocejo; essas águas que evaporam, e um dia fazem flutuar mais do que outros mares. Mares Mortos.

As colunas de som nunca tiveram tanta verossimilhança; são tortas, mas vejo-as mesmo assim. É tanta imaginação que tudo mais ganha um tom tão luminoso que quero começar a pensar. O sonho tem sido raso, como se estivessem também as águas do tempo dos sonhos evaporando, e fazendo flutuar mais do que outros mares.

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