sábado, 3 de julho de 2010

Até aqui, tudo bem...

Meus conselhos, quando os dou, não são os melhores do mundo. Tenho ficado disperso, esperando um tapa do além em minha cara; e só nesta noite muito das especiais, me dou conta disso. A ironia é como uma careta ou outra, que fazem os insetos ao serem esmagados nos pára-brisas dos carros e caminhões pela Terra afora; é sutil, e ao mesmo tempo essencial para um dos lados da história. Sim digo isso com convicção de quem sabe que tem consideráveis terrenos de ruindade no colo de seu ‘eu’ invisível. Os terrenos que conheço não conhecem rituais... Velhos e velhas lavam suas mãos e se banham em fogueiras, flamas e feridas se contorcem nestas lenhas. “Quem não te conhece que te compre!”, diria minha mãe se ela estivesse acordada, ou se eu pedisse pra que ela dissesse tal frase; ‘por licença poética, escrevo agora apenas o que acontece de antemão em minha mente’ – quem vê pensa. Parece tudo muito óbvio, mas é fácil relatar aquilo que não se vê. Prefiro nesses momentos dizer o que meu fogo me trouxe.

Não há aplauso vazio que me desperte deste leito hospitalar, deste local tão especial perto dos dejetos. Não, apenas mais memórias me despertariam. Não quis ser grande até ver que podia encolher... até me reduzir a uma sonda, a um pedaço de plástico e umas gazes. Que desculpa daria meu tutor aos médicos?!

“- Onde está aquele paciente que não comia ou ia ao banheiro? Só vejo a sonda... e esses estranhos pedaços de gaze!

- Sabe como é, doutor. O menino está fadado a desaparecer! Ele cresceu tanto que estourou tudo o que eram veias; rolou nessa cama de merda, até não querer mais; e depois... bem, o óbvio: desapareceu.”

Para quem dá bola pra algumas coisas que são escritas aqui, e não entende tão bem o que falo quando menciono viagens e mais viagens de psicodelia de mau-gosto, eu falo também sobre alucinações involuntárias que aconteciam em tempos em que eu estava internado, ou num hospital, ou num sanatório,e tudo o que lá aconteceu é intrínseco a mim. Tanto que há flashbacks, que me fazem ver reflexos onde nada há. Que me fazem ouvir músicas em minha mente que tanto me assombraram.

E digo a você, que teve coragem de se oferecer como melhor amiga a quem quisesse: “você é o que me faz separar carne, de lágrimas; dor, de cânhamo. E me faz ver que tanta bagagem desnecessária que me atrevi a carregar até hoje, posso deixar em um cantinho na bagunça tão aconchegante de seu quarto. E lhe dou um conselho: Não esquente com minhas paranóias... apenas não escute estas vozes junto comigo, isso será o suficiente por um bom tempo, até que eu queira engolir meu próprio mundo novamente”.

Um comentário:

  1. Sempre suspeitei das suas passagens por um sanatório, eu continuo fugindo da psiquiatria.

    Piadinhas infames e sem graças à parte, sempre um prazer passar aqui. Mas seguindo o conselho que nem a mim foi dado, vou manter distância de segurança pra não começar a ouvir também as vozes. (nada pessoal sabe, só que odeio isso de alucinação... rs)


    Abraços Rafael. :)

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