sábado, 12 de maio de 2012

Cultivo.


Cultivei, apesar de minha iminente falta de teto, algo para a noite... Mesmo que o sol veja, e que pássaros defequem sobre, lá está, brotando, e florescendo. Algo para a noite.

Por favor, amigo, não confunda esta carta com uma daquelas declarações de amor à Lua; tudo tem de se tratar de amor? Pode ser que sim. Neste caso um amor catatônico, longínquo, catastrófico, e mesmo assim, belo!

Preciso lhe abrir um pouco os olhos sobre esse tal relator, que pede pra ser lido, que se arranja entre pantufas e calções, e que fuma um charuto, de fato um cara sisudo... Bom, ele não existe. Tem um menino azulado ao meu lado, deve ser ele quem dita tudo isso.

Não precisa me encarar como garoto-problema, apenas porque dou vazão à muito de minha cólera. Falo de um sonho, e vivo parte dele agora; ser pródigo nessas horas é como matar o próprio animal de estimação para dar-lhe de comer um tanto de sua própria carne. Não rola.

Deve ter havido uma estranha separação de bens, feita há eras, quando a razão se distanciou do viver. Viver parece, na realidade, não utilizar da razão. Utilizamos de nossas faculdades mentais, mas não da razão, não aquela que está no dedo de Deus em toda a Renascença, nem naquela que torceu pescoços de antigos e contemporâneos pensadores, por terem-na presenciado longe da vida que corre nas veias, naquela vida que conhecemos, mas que frequentemente negamos, porque queremos viver.  

Pois cultivo, sob o céu noturno. Tenho pra mim que é de lá que sairá meu mais suculento fruto, azedo e gélido, nascido de noites de inverno.

Muitos poetas foram lidos, por parecerem falar sobre a verdade, uma que não é vista com os olhos; nesta ocasião presente, porém, me aqueço, sem me preocupar com o que há de tentar me parar, e digo que pode ser que esta carta seja lida por eu estar falando de uma vida que vemos todos os dias, que está diante de nossas faces agora, e que não precisa levar o nome de verdade, necessariamente.

O que sinto agora é uma imensa saudade da personificação do sonho:

- Posso tocar? Então é real... Feito de sonhos? Então não se trata especificamente da verdade.

Apesar de todos estes vícios de locutor fúnebre, minha Aurora, a que tenho para mim, é uma aurora noturna, uma que se deleita em silêncio, que brota em verdes musgos, que tem a calma como sendo voz de comando. Calma que ecoa na mente, quebrando suas amarras devido à insistência. Insistência dessa ânsia, de ter um dia a mais, de ter como meio de locomoção um balanço, que não necessariamente me leva à outro lugar, mas me dá verdadeira sensação de que apenas nos mudamos de lugar enquanto a terra transita pelo espaço; pois da minha casa até a sua, ou do norte ao nordeste... bem, isso não muito chão. É?  

Não aguardo essa Aurora, nem a pinto de outras nuances de laranja; ela vai sempre ser minha inspiração, meu rumo, minha Renascença, minha iniciativa pessoal, minhas costas viradas para o rockstar.  Vivo agora tal mudança, devido a este cultivo noturno, e apenas grito agora para me preparar para o silêncio. A paz pode ser assustadora, mas já perdi o medo dela. 

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