
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Que tudo um dia venha abaixo
Uma vez, aos 16 anos, um amigo meu me perguntou:
-“No que você pensa ao tentar compor uma música?”.
- Tento fazer algo que me lembre de um dia chuvoso... – Respondi eu.
Eu não mentia ao dizer aquilo. Hoje eu penso em mil coisas antes de produzir algo. Talvez por isso não mais o faça aos montes, como antes... Acho que tenho mais a falar sobre a chuva do que sobre a vida, afinal.. são muitas gravações daquela época. Deletei 50 delas. Isso foi chato. A desconstrução é enfadonha e agressiva ao mesmo tempo. Seja isto no plano material, quanto no plano áurico. O ocidente (falo do ocidente como se eu realmente conseguisse ver as coisas de uma maneira tão ampla, ou se eu pudesse criticar o mundo como se o entendesse, o que não acontece) pensa muito mais em construir, construir alto, do que em desconstruir. Se destruímos, destruímos barracos, não arranha-céus. “Mãos à obra!”, dizem os construtores, de caps de baseball feitos de acrílico... “Vamos fazer a construção mais alta, extensa, e devastadora que conseguirmos!”
Não falo de prédios aqui não, longe de mim! O ocidente descarta com a mesma facilidade que aperta botões. Onde está o tempo para a desconstrução? O esvaziamento de si é algo tão distante para nós, meras vigas dessa construção que não pára, que a desconstrução será dolorosa, e não catártica, como poderia ser.
Conhece alguém com paciência, calma e distinção mental? Alguém que seria capaz de se recostar numa poltrona e descansar os pés nas teclas de um órgão, e lá estar por horas? Esse transe está distante também de nós. Tão distante que os escritores de auto-ajuda podem estar se tornando os novos fornecedores do que eu poderia chamar de “fast-food for thought”.
Sinto dizer, mas sou um expositor. Exponho mais do que compro, talvez por causa dessa construção que não pára. Quero me esvaziar de mim... quem não se sente cheio de si de vez em quando?! Quero me encher do que flui, não me afogar em água parada.
Preciso de um novo mantra.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Mas... Vale a pena?
“Estamos a procurar uma música boa de se fazer!”. Isso já foi, e é dito por um suposto personagem de uma só frase, e de uma só música (música esta feita de trás para frente, e revertida digitalmente para causar estranheza em quem a ouvir). Tal personagem se vê fruto de uma certa biogênese psíquica, que pode ter surgido das bizarras adoradas partes decompostas, porém férteis de amigos que têm muito
Não posso dizer que há algo de negativo em uma personificação de uma mistura de algo televisivo e banal, com algo que já gerou risos, e paródias em geral; afinal, é esse tipo de coisa que nos dá o direito de dizer “cara, a gente é muito retardado..!” . Isso pode até mesmo ser impagável, realmente, de um ponto de vista geral, e apurado, não só para quem o diz, mas também perante a vivência
Posso dizer que o conforto pleno tem sido companheiro nos últimos dias, e que não importo realmente para uma multidão. Os poucos, porém, me fazem valer a pena. Me transformam em item de valor... Tudo isso nas ruas, que são prateleiras de carros de brinquedos, pessoas reais, e gente de plástico, vestidas com tanto esmero, para serem apreciadas pelas pessoas reais... que passam atentos, de mãos dadas, de olhos vítreos, balbuciando preços e planos, para um mundo que se resume aos poucos, num lugar onde o que importa pode ainda não ter sido descoberto. Ainda nestes momentos a vida vale a pena.