domingo, 29 de agosto de 2010

Dominoes

Sobre o interesse alheio, Amarela sabia que este já não existia, nunca existiu; além do quê, este nunca lhe arrumou a cama.

“Cool Things are what you can find in your bedroom, when you want to GO far...”
Esta música ficava martelando em sua mente. Não pela primeira vez, não pelo primeiro dia inteiro, mas há dois anos, aquela menina já se fazia derreter por nada mais do que a vontade de ir mais longe... “mais longe? Mas para onde?” – Perguntava Azul, que se sentava à porta, perto de alfinetes com cabeças de porcos, que a lembravam de ratos pelados que viu na porta para o quintal quando era bem menor, bem menos... azulada.

Bobageira, que nada, o que valia era a espontaneidade.

- Aceita um drink senhorita? Oh, obrigada! – Falava Vermelha consigo mesma, pensando em brilhos, e tudo mais que desse nojo à Amarela.

“Sim, são as rainhas de meus quadrinhos! As flores de meus sonhos! Algo sobre azedo e doce, e peles lisas de moças donzelas”...

Aquele cara certamente estava perdido, realmente previsível e estonteado pelo sol que Amarela trouxe ao inconsciente do planeta. Sim, o ponto gravitacional do pensamento terrestre.
“Não posso mencionar aquela palavra! Mas como me beijo a própria boca ao dizê-la, só digo no escuro, sem som nem nada. Como me faz falta! será assim também com a guardiã de minha porta? Que não reza, nem colhe, nem mesmo sabe que é empregada do diabo quando está tatuada nos braços de quem não ouve o que é ancião, o que é hoje pele morta!”

Aquele cara estava realmente perdido!

“Se tens sarcasmo... que não espete o dedo nesta agulha contaminada. Se acreditas que caduco, ria com seus amigos, mas não me cutuque com seus cotovelos verruguentos! Quem acreditaria se eu dissesse que hoje à noite, em letras garrafais, alguma coisa na minha savana interna me gritou, dizendo: “VOCÊ NÃO PODE VOAR”... seria você, que tem o negro nos olhos, e que conhece a cor de minha alma...? Só lhe peço, que não mais alimente minhas filhas. Todas as três primárias, todas as três tão simples, tão rebeldes quanto a parte da história que ainda não terminei de ler.”

Azul, vendo o pai na janela, tocou um véu, que lhe desceu dos batentes da porta, e roçou o rosto tão forte nessa cortina, que descobriu seu sangue.

Amarela vendo aquilo não ficou vermelha, nem nada. Seria muita afronta! Muita cólera no escrever das linhas tortas! Seria ela também empregada do diabo? Como aquela que guardava a porta? Não Azul, mas a outra, aquela que muito via, com quatro pares de olhos e tudo mais...

“Sinto muito minhas dóceis! Entrego-lhes o pão pela boca de corvos, por serem cores luz. Se gritarem ao serem bicadas, nunca mais que seu papai que jaz no coração da terra manda esses fantoches por varais! Sim, pássaros são fantoches daquele que gosta da guardiã, que já engoliu a chave da porta de sua cela no manicômio, este que vos fala de outrora, também num dia escuro e velho, jogando dominós.”

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