domingo, 12 de setembro de 2010

Carta para Análise

Se fazendo de bom moço, olhou para o batente da casa da ‘dona’, e sentiu-se reconfortado, era um tipo de verão que vinha, mas pingos frios, muito frios caíam em seus ombros. Vivia no esgoto, já há dois meses; o calor no esgoto é mais terrível do que na superfície. Esperava pela queda, mas sabia que estaria junto de sua amada, de sua cadela, e do batente da porta da ‘dona’. Pra que um mundo tão literal? Por que as coisas que estão nas lâmpadas, em cima dos montes que refletem, não viram também massa, não viram também matéria?

Sim, é um mundo literal o daquele que não vê o script, que não vê nada brilhando. Sei que não vou te encontrar aqui, e nesse momento, mas sei que posso mandar isso aqui que estou vendo agora pra análise, para o frio laboratório da superfície. Me digam, senhores, quantos morangos são necessários para calar um homem de sua última anedota? Não sabe essa? Quem é que responderia essa? Nunca foi uma piada!

Vejo no claro oco de seus olhos já mortos, o muro de tijolos da casa daquele parque tão bonito em São Justino. Eu sei que a doença tomou conta de nossas peles por dois anos e meio, e isso foi o que fez a gente associar a dor ao sexo. Descobri isso do nada, assim, num piscar de olhos! No trombar com minha própria sombra. Sou literal, e coloco o que vejo aqui para análise, espero que haja romãs na superfície quando o verão passar. Esse é o paradoxo. Não existiriam romãs pra quando eu sair daqui? O verão aqui é terrível! Já lhe digo, de sombra para sombra:

“Olhe bem o que vem para te abraçar em sonhos, tais comichões não passam de eletricidade! E eletricidade é algo sobre imagens e dentes quebrados. O Porquê? Bem só digo de perto, por baixo, olhando bem para suas lentes, ocas e trincadas, que não vê o futuro daí, mas sim, tem a sensação elétrica, de um dia acomodado nos colos, e nos colos deleita-se, da possibilidade mecânica e pré estabelecida do carinho, que sim, é verdadeiro, mas efêmero em seu estado puro.”

O batente da porta, aquilo tranqüilizou-o de tal maneira, que era possível remar, e remar, por lácteas crostas de monstros celestes. Não tem nada de piegas em ver a chuva quando ela cai, e não através de eletricidade, e simplesmente por isso. Os pingos frios são mesmo o que me refresca neste verão. Coloco meu chapéu, e não vejo mais nada. Mas tiro-o para o sono. Aquele trabalhador que vem de morros, e constantes descobrimentos de serras. Eu via os trabalhadores e as formigas abaixo do sol; foi aí que comecei a enxergar essas nuances de cores-líquido, que mando agora para análise. Atenciosamente, Roman.

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