sábado, 4 de dezembro de 2010

Ar Fresco.

E nada mais fazia sentido. O rapaz ficava a assistir pequenos corpos que flutuavam na superfície aquosa de seus globos oculares. Já não se perguntava, batia de frente consigo mesmo. Batia o pé, e dava murros; queria sair.

- Quero sair! Não me importo de ser um aborto, ou alma que não atingiu o que alguém determinou em algum livro que não li! – George segurava esses berros dentro de si, e segurava também sua precipitada alma pelos braços, como quem esperava por um apagão planejado, para violar uma presa. – É muita malícia o que sai de sua pele, esse suor e outras coisas que não vejo por estar aqui dentro... enfurnado. E ninguém dá a mínima! Empatia e bons modos, é o que todos pensam ter! E, bem... vejo pessoas com roupas caras, bolos confeitados, e carros a mil, mas ninguém com essas... Ei, espere aí!

Do lado esquerdo de George havia algo que ele havia chamado de ‘múmia’, na primeira vez que avistou, mas se bem que aquele pensante, fumante, e estático ser de olhos cerrados, tinha muito visivelmente tais qualidades... Aquela múmia fumava em ambiente fechado, ou melhor em uma casa de berços para ‘múmias’, para seres como a alma de George, que reclamava para sair.

- Demônio redundante e piegas! Apenas me liberte! Já não há contentamento, ou dor, apenas essa luz renitente, que entra pelos buracos de suas pupilas! Já basta! – A alma sai.

George sente um frio no peito, e só.

- Logo, logo a luz se apaga. – Dizia a múmia fumante. – Logo a dor passa, e vem um outro garoto com vida para cá. Ele cuidará de nós.

George já não falava, ou enxergava. Sentou-se de pernas recolhidas, como a outra múmia. Apenas pediu um charuto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário